Resolvi compartilhar um artigo publicado no The New York Times, traduzido pela Folha de S.Paulo, no último dia 28, pois ele retrata fielmente o meu sentimento sobre o Twitter nos últimos tempos, mais especificamente nos últimos 12 meses.
Quem me acompanha aqui e no
Twitter sabe do tanto de gente que já conheci pessoalmente tendo como primeiro contato o microblog, mas, sinceramente, hoje já não sei se isso é possível.
Atualmente a superficialidade, tanto de opiniões, conhecimento, quanto de amizade e troca de experiências domina a rede e não só a de 140 caracteres. O título da publicação que trago vai direto ao ponto: Twitter passou de rede de notícias a ringue por atenções.
Em certo momento, o Twitter e as demais redes sociais se tornaram menos sobre querer compartilhar as notícias e mais sobre querer sê-las.
O Twitter não é realmente sobre a coisa mais importante – deixou de ser sobre a relevância há muito tempo. O Twitter parece ter chegado a um divisor de águas, uma fase durante a qual seus colaboradores deixaram de tentar tornar o serviço tão útil quanto possível para o público, e, em vez disso, estão tentando se distinguir uns dos outros.
É menos sobre navegar correnteza abaixo, absorvendo o que você pode enquanto flutua, e mais sobre tentar a manobra mais vistosa, angariando fãs e prêmios no caminho.
Como isso aconteceu?
Uma hipótese: a psicologia de grupo pode funcionar diferentemente no Twitter em relação a outras redes e sistemas sociais. O número de seguidores que você tem é muitas vezes irrelevante. O que importa, contudo, é quantas pessoas te percebem, seja por meio dos retweet (passar um tuíte para a frente), pelo número de favoritos (algo como a opção curtir) ou o Santo Graal: um retweet de alguém muito conhecido, como uma celebridade.
Esse tipo de validação que diz que sua contribuição é importante, interessante ou valiosa é prova social suficiente para encorajar a repetição. Muitas vezes, isso resulta em competição para tentar ser o mais alto ou mais retransmitido e citado como aquele que sintetizou o mais chamativo evento do dia da maneira mais concisa.
Como consequência, a juventude dos acontecimentos atropela a relevância, o que faz com que um único e relativamente desimportante assunto pode exasperar muito de uma comunidade ao longo de um dia. Há diversos outros eventos recentes que cativou o Twitter ao ponto de exaustão.
Parece que estamos todos tentando, no Twitter, ser o convidado falastrão de um programa de auditório, um participante de reality show ou uma criança com uma tiara –
fazendo a apresentação da vida por meio de um comentário fuzilante, um GIF animado ou resposta que nos ajudam a nos destacar da massa.
Mas, mais frequentemente, isso se traduz em subir em um caixote coletivo, acotovelando-nos uns aos outros por espaço, na esperança de ser creditado como o que produziu a melhor frase ou reação. Muito disso resulta hilário. Talvez uma quantidade igual causa exaustão.
Dizer que o serviço não é mais relevante ou informativo parece impreciso –muito do meu dia ainda é gasto navegando sobre o Twitter, buscando os melhores links, pensamentos e obras para examinar e compartilhar depois –
mas é menos informado (e informativo) do que já foi.
Mais e mais vezes me vejo recorrendo a grupos menores, nos quais os ânimos são mais baixos e as pessoas são mais honestas, menos determinadas a provar um argumento, mais livre para brincar e experimentar, mais confiável e aberto a conversas verdadeiras.
O Twitter já se pareceu como um serviço de notícias, com relatos vindo de todo o mundo, de lugares e coisas, experiências e pessoas, e eu ainda quero que ele seja esse lugar. Ainda posso ter essa sensação, particularmente durante grandes eventos noticiosos que estão se desenrolando em tempo real. Isso é quando o Twitter brilha como um novo meio, quando estamos todos compartilhando e devorando os comentários oferecidos por pessoas in loco, âncoras de jornais, testemunhas oculares, comentaristas sarcásticos.
Mas a euforia desses momentos pode ter-nos condicionado a tratar até mesmo o menor incidente como um digno de dissecar, regurgitar e examinar até a morte. Estamos moendo, passando por cima, esperado nossa vez de falar e adicionar algo esperto à conversa, mesmo quando estaríamos melhores se não disséssemos qualquer coisa.
O Twitter está parecendo calcificado, desacelerado pelo peso de seus próprios usuários, desengonçado, menos empolgante do que cansativo. Esse pode ser o motivo por que formas menos públicas de conversa –mensageiros como Snapchat, GroupMe, Instagram Direct e mesmo grupos de e-mail antigos e Google groups – estão exercendo um papel maior e maior nas interações que tenho on-line.
Leia o artigo na íntegra aqui.